sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Nada.

"É uma coisa doentia, não é? Essa coisa que nós seres humanos temos, de não conseguirmos ficar sem fazer nada. O tédio é uma dor na alma, uma dor quase excruciante. Então nós simplesmente temos que fazer algo, qualquer coisa, nem que seja preocupar-se com as provas da semana que vem. É quando nos esforçamos pra dormir pra não ter que ficar olhando para os lados, andando de um lado pro outro na sala, ou sentar no sofá, colocar uma música pra tocar. Mas aquilo não lhe agrada, não é aquilo que você quer. Então você deita, mas não consegue dormir porque não se sente cansado o suficiente, afinal, não fez nada o dia inteiro.
Nada, nada. E esse nada parece tudo. Parece MUITO. Demais para suportar. E ele vai preenchendo todo o espaço nos seus pulmões até não conseguir mais respirar.
Ai vem o choro, desmotivado, sem propósito, desenfreado e humilhante. O choro dói, mas de algum forma é reconfortante. E as lágrimas não param nunca. Você toma o ar pra voltar ao ritmo normal de respiração, finalmente sentindo poder respirar de novo, ai você vai até o espelho do banheiro e lava o rosto. Não dói mais tanto assim. Mas aquela sensação desconfortante não vai embora, ela nunca vai, ela fica ali, espreitando outro momento de fraqueza. E então você passa a chorar por tudo, qualquer coisa é motivo para o choro; se torna uma válvula de escape, as lágrimas parecem transbordar levando toda a dor embora, a dor que nunca realmente se vai. Você chora lembrando de algo ruim, ou de algo bom, chora lendo um texto particularmente bem escrito na Internet, chora ao concordar com alguém e ao discordar também, chora vendo filmes sobre cachorros e nem sabe exatamente porque está lá, olhando seja lá o que for, até que não possa mais enxergar através das suas lágrimas despropositadas. E chorar tem sido a única coisa, porque você não sabe mais o que fazer, e não quer pensar nisso mas ao mesmo tempo é absolutamente impossível, porque ele sempre está lá, o nada, o nada que ocupa tudo, e parece arrancar suas entranhas.
Então, você pensa pela primeira vez, que talvez o problema não seja com o mundo, e sim com você. Que talvez definitivamente não se encaixe, porque é um produto com defeito. Deve ter algo de errado com seu cérebro. Porque você sempre acaba fazendo tudo errado, tomando as decisões erradas, e não entende como as coisas parecem funcionar para todos aos seu redor, mas sempre errar o alvo na sua direção. E o problema é seu, unicamente seu e de mais ninguém."