
Nada, nada. E esse nada parece tudo. Parece MUITO. Demais para suportar. E ele vai preenchendo todo o espaço nos seus pulmões até não conseguir mais respirar.
Ai vem o choro, desmotivado, sem propósito, desenfreado e humilhante. O choro dói, mas de algum forma é reconfortante. E as lágrimas não param nunca. Você toma o ar pra voltar ao ritmo normal de respiração, finalmente sentindo poder respirar de novo, ai você vai até o espelho do banheiro e lava o rosto. Não dói mais tanto assim. Mas aquela sensação desconfortante não vai embora, ela nunca vai, ela fica ali, espreitando outro momento de fraqueza. E então você passa a chorar por tudo, qualquer coisa é motivo para o choro; se torna uma válvula de escape, as lágrimas parecem transbordar levando toda a dor embora, a dor que nunca realmente se vai. Você chora lembrando de algo ruim, ou de algo bom, chora lendo um texto particularmente bem escrito na Internet, chora ao concordar com alguém e ao discordar também, chora vendo filmes sobre cachorros e nem sabe exatamente porque está lá, olhando seja lá o que for, até que não possa mais enxergar através das suas lágrimas despropositadas. E chorar tem sido a única coisa, porque você não sabe mais o que fazer, e não quer pensar nisso mas ao mesmo tempo é absolutamente impossível, porque ele sempre está lá, o nada, o nada que ocupa tudo, e parece arrancar suas entranhas.
Então, você pensa pela primeira vez, que talvez o problema não seja com o mundo, e sim com você. Que talvez definitivamente não se encaixe, porque é um produto com defeito. Deve ter algo de errado com seu cérebro. Porque você sempre acaba fazendo tudo errado, tomando as decisões erradas, e não entende como as coisas parecem funcionar para todos aos seu redor, mas sempre errar o alvo na sua direção. E o problema é seu, unicamente seu e de mais ninguém."